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"Portugal na crista da onda" por Professora Doutora Elvira Vieira

Artigo de Opinião

Professora Doutora Elvira Vieira fala-nos sobre 'Portugal na crista da onda', no seu artigo de opinião publicado no semanário Vida Económica.

"A mais recente explosão do turismo em Portugal chegou no momento certo. Numa altura que precisamos de crescer para conseguir fugir ao radar das agências de rating, o país dos descobrimentos está finalmente a ser descoberto. E em massa! Os números do setor são impressionantes. Segundo o INE, desde o início do ano até julho, o número de visitantes já ultrapassava os 11,5 milhões gerando proveitos totais superiores a 1800 milhões de euros, um crescimento de 17,3% face ao período homólogo de 2016. As estimativas do World Travel & Tourisme Council (WTTC) acompanham o otimismo destes números, prevendo que em 2027 o turismo possa ser responsável, de forma direta, indireta ou induzida, por 18,5% do PIB nacional e 22,6% do emprego total!

O interesse crescente pelo país não apenas como destino turístico, mas também como local de residência, secundária ou permanente, deve-se a muitos fatores dos quais se destacam a localização privilegiada, a perceção de segurança e a projeção mediática, com destaque para os prémios de melhor destino turístico, tanto para Portugal como país como para as cidades do Porto e Lisboa, e naturalmente a longa história de conquistas e descobrimentos, excelente gastronomia e demais património material e imaterial da nação. A pujança do setor é o resultado de uma combinação de características intrínsecas e atributos conquistados que colocam o país na crista da onda do turismo, tornando pouco aleatória a dimensão do crescimento alcançado. Independentemente dos motivos que justificam o grande fluxo de visitantes, o facto é que conseguimos atrair, mas conseguiremos conquistar e fidelizar? 

O amadorismo de uma visão em que a oferta se limita a um teto, cama e pequeno almoço, tem que ser substituída por uma outra que melhor nos caracterize naquilo que são as nossas melhores qualidades enquanto povo: a arte de bem receber. À boa vontade e disponibilidade de muitos anfitriões e empresários do setor faltará uma abordagem mais profissional e vocacionada para a atenção do detalhe, que faz a diferença na experiência turística. O produto turístico deverá ser visto como um qualquer bem económico transacionável num mercado altamente concorrencial, em que tem que se estar preparado para ombrear com os melhores de forma a conseguir manter o atual lugar de destaque. Talvez mais difícil do que chegar a este nível é conseguir manter o país nesta posição e para isso a aposta é necessariamente na qualidade e inovação, preservando e respeitando o património cultural, o que aliás já mereceu o elogio do secretário-geral da Organização Mundial do Turismo, que salienta a boa gestão dos recursos gerados pelo crescimento do turismo e a sua sustentabilidade como fatores chave de sucesso do setor.

Apesar das 'dores de crescimento' e de alguns efeitos colaterais negativos que não chegam para ofuscar os benefícios do Turismo para a economia do país, a riqueza criada pelo setor representa uma grande oportunidade para a dinamização também de outros setores, aproveitando a boa imagem de Portugal no exterior, evitando uma visão afunilada e atrofiada do crescimento económico.

A adaptação a esta nova realidade requer um necessário esforço de modernização e requalificação das infraestruturas de apoio ao Turismo, que nas grandes cidades é visível sobretudo no dinamismo do mercado imobiliário. A este nível a oferta vai-se adaptando mais rapidamente à crescente procura, muito à custa do alojamento local, pelo menos em comparação com a disponibilidade de recursos humanos para trabalhar em atividades ligadas ao setor. A rápida criação de empregos, direta ou indiretamente relacionados com a atividade turística, tem colocado em evidência o défice de capital humano que possa apoiar este crescimento, problema já identificado na Estratégia Turismo 2027, documento apresentado pelo Governo no início do ano. Os recursos humanos são essenciais no processo de fidelização e, como tal, é vital produzir capital humano nesta área que possa responder às exigências dos visitantes, sobretudo daqueles que procuram qualidade e que têm poder de compra para a ter, o que passará certamente por uma maior valorização dos trabalhadores do setor e uma maior formação académica e profissional. 

O país está definitivamente na moda e o grande desafio futuro é que esta não seja passageira."

- in Semanário Vida Económica, 13 de outubro de 2017