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"ÉTICA e CONFLITUALIDADE no TURISMO" por Professor Doutor Abílio Vilaça

Artigo de Opinião

Professor Doutor Abílio Vilaça fala sobre "Ética e conflitualidade no turismo", no seu artigo de opinião publicado no semanário Vida Económica.

O ambiente laboral de um operador turístico, requer, muita sensibilidade e sentido de responsabilidade, por parte de todos os trabalhadores e um forte sentido de trabalho em equipa. Surgem esporadicamente conflitos que por vezes desenvolvem-se em greves com processos em tribunal e outras guerras nem sempre bem compreendidas.

As disputas entre trabalhadores e entidade patronal, são normalmente longas e ninguém sai a ganhar, exigindo posições equilibradas e ética. A situação de disputa sendo porventura muito difícil, requer bom senso das duas partes e sobretudo dos líderes. Quando as posições se extremam, a greve surge muitas vezes como último recurso e como forma de pressão.

Esta opção é muitas vezes o limite do confronto e gerador de uma dinâmica de perda de respeito e do equilíbrio desejável. É por ausência de os direitos dos trabalhadores estarem dignificados na contratação coletiva de trabalho dos operadores turísticos, que surgem dúvidas sobre direitos e deveres.

Tendencialmente as empresas privadas possuem uma atenção ao ambiente que precede a marcação de uma greve e por antecipação procuram desenvolver medidas que a evitem. São muitos os prejuízos decorrentes de uma greve, para uma empresa e para o clima da organização, com reflexo sobre os trabalhadores.

Os conflitos e denúncias têm sempre uma natureza distorcida que fomentam ambientes de trabalho podres e indesejáveis. As empresas ligadas ao setor do turismo dependem do ambiente de trabalho e da satisfação dos seus clientes, elemento determinante no sucesso da organização. Outro fator detonador de conflitualidade resulta das ¿cunhas¿ para contratar pessoas não seguindo a via da transparência e da seleção e recrutamento técnico mais ajustado às necessidades da empresa.

As "cunhas" são uma forma de corrupção, muito comum em Portugal e que deve ser eliminada da prática comum. Elas são desde logo um problema para "o protegido/a" pois ficará sempre com um anátema que o perseguirá toda a vida na empresa. É também um sinal contrário ao respeito pela comunidade dos trabalhadores da empresa, pois reforçará a desconfiança e sentimentos de falta de transparência, contrários á motivação, ao respeito e à dignidade humana.

O mérito e a qualidade, elementos chave na formulação do respeito e da motivação, ficam seriamente afetados levando à desmotivação e afrouxamento das dinâmicas de exigência e de conquista. Sempre que se contrata um incompetente, ele será um problema para todos. A ética deve ser uma prática de transparência de processos que reforce os laços de profissionalismo e de formação de trabalho em equipa.

Uma das conflitualidades mais severa e difícil de tratar é sem dúvida o despedimento de um colaborador. Os despedimentos constituem a situação mais complexa e dramática nas relações laborais, exigindo prudência e muita sensatez. A perda de emprego é desde logo uma rutura com um contrato que legitimamente garantia a sobrevivência do trabalhador. Um contrato é uma força de estabilidade emocional individual e de sustentabilidade.

É a partir dessa força que se formulam ambições pessoais e familiares que ultrapassam a dimensão do indivíduo. É a partir do emprego que se forma o direito ao rendimento indispensável para uma vida com dignidade, de liberdade e de independência. A sua perda provoca uma fratura dessa estabilidade e da conquista da liberdade provocando dependência.

No turismo, o clima organizacional possui uma influência determinante no funcionamento da empresa e na qualidade do serviço. Trabalhadores felizes fazem um clima organizacional mais favorável ao turismo. Comportamento gera comportamento e é vital um clima de empatia para com turistas. É frequente, nos tempos atuais ver-se empresas a reduzir a sua estrutura de recursos humanos, justificando essa determinação com a necessidade de sustentabilidade da empresa.

A ética no turismo requer uma dimensão humana capaz de compreender que o negócio está intimamente ligado a pessoas e nessa base requer muita sensibilidade e inteligência. Outras conflitualidades resultam quando se verificam acidentes de trabalho, a "escravatura dos talentosos", o trabalho infantil, a perseguição às minorias ou à diferença.

A relação direta dos profissionais de turismo com os turistas, desperta a necessidade de garantir condições de operação muito planeadas e estruturadas, evitando situações causadoras de acidentes e de exploração sempre mal aceites e rejeitadas pelos turistas.

O trabalho infantil e a exploração de trabalhadores são repugnantes sendo completamente rejeitadas no setor do turismo. A ética exige uma grande sensatez para atuar por antecipação e contrariar determinadas práticas anti-sociais. As empresas de turismo que melhor compreendem os seus trabalhadores, conseguem uma força mobilizadora capaz de criar um bom clima organizacional e, como tal, passar um ambiente de felicidade para os turistas.

A ética no turismo exige atitude, sensatez, cooperação e trabalho em equipa, forças que se estruturam no respeito, na motivação e na dignidade humana. Compreender melhor esta dimensão é possível com uma leitura atenta da encíclica 'laborem exercens' produzida pelo único Papa operário, João Paulo II, na qual reforça a ideia de que os detentores dos fatores de produção e do trabalho conquistam a compropriedade do que produzem em comum.