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"A Hibridação da Comunicação" por Professor Doutor Manuel Fonseca

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

De um lado a comunicação comercial, do outro lado a comunicação cívica. Estava tudo tão arrumado. Ou será que, em verdade, nunca foi assim? No princípio era o verbo, depois veio a necessidade de o tornar comum. O mais antigo meio de comunicação do mundo, que começou na argila, migrou para as tábuas e acabou na prensa de Gutenberg. No século XIX a democratização da imprensa deu os primeiros passos, distanciando-se das influências políticas e ideológicas até então dominantes: a "Penny Press" traduziu-se em jornais de cariz noticioso generalista, recorrendo a grafismos inovadores, títulos apelativos, politicamente independentes e acessíveis no preço e no discurso. Seguiram-se décadas de especialização, desenvolvimento e edificação de um meio de comunicação assente na investigação, no rigor e no fazer pensar. 
Mas como se financiam estes meios? De uma forma geral podemos destacar as receitas de circulação (vendas em banca e por assinatura), as receitas publicitárias, a venda de produtos associados (livros, filmes em DVD, entre outros artigos), a venda de material de arquivo, incluindo acesso a base de dados, as conferências temáticas onde são cobradas presenças e/ou angariados patrocínios, os apoios estatais ao envio de publicações regionais por via postal, o patrocínios à realização de reportagens e outros trabalhos jornalísticos que fazem a cobertura de atividades de entidades estatais e organizações privadas. De todas estas tipologias de financiamento, a publicidade continua a ser a principal receita da imprensa (entenda-se a compra de espaço por anunciantes, para difusão de mensagens promocionais a bens e serviços). 
Aqui começa o problema da sustentabilidade da imprensa nos moldes atualmente conhecidos: por um lado pela quebra acentuada nos montantes investidos pelos anunciantes (de 84 milhões de euros investidos em 2011, passou-se para 34 milhões, em 2017), por outro lado pela fragmentação de veículos e audiências que tanto caracterizam o universo digital. Ou seja: menos dinheiro estrutural para manter o negócio; menos disponibilidade, por parte dos leitores, para pagar conteúdos noticiosos; descentralização da produção de informação; e consequente perda da qualidade/rigor informativo. 
Em todo o mundo se sentem os reflexos desta conjuntura, do New York Times, à Vogue, passando pelo Diário de Notícias (agora, semanário em formato físico e diário online), as quebras de venda em banca são extensíveis a publicações como o Correio da Manhã, Expresso, Jornal de Notícias, Sábado, Visão, Público e Jornal de Negócios, conforme referenciado no ensaio de Carlos Guimarães Pinto, do Observador, no passado mês de Agosto (variação entre 2013 e 2017, com quebras médias de 26%).
Não existe uma solução milagrosa para este modelo de negócio que está em profunda transformação, sobrevivendo entre uma conjuntura instável e os desafios da migração para a Era Digital. As redações estão mais pequenas (os cortes nas equipas já são em si uma notícia) e os títulos diversificam e tentam a sua presença online (consequentemente as despesas aumentam, sem a reciprocidade das receitas).
Acredito que é neste contexto que a hibridação dos formatos se torna uma realidade não alternativa, mas complementar (os leitores saberão separar o trigo do joio): no contexto da assessoria de imprensa, as agências de comunicação contribuem para a construção de conteúdos. Com visão estratégica por parte das entidades assessoradas (onde se torna público o que tem interesse público) e sob o filtro do rigor e do profissionalismo dos profissionais do jornalismo é possível conseguir alimentar as diferentes plataformas informativas, sem que os grandes nomes da imprensa nacional percam a voz.