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"Aprender a empreender" por Professor Doutor Manuel Fonseca

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

São inúmeros os mitos e os preconceitos relacionados com o empreendedorismo e o ser empreendedor. E, diga-se de passagem, a banalização do conceito tem levado a interpretações menos esclarecidas e julgamentos rápidos sobre perfis e tendências. Por um lado, enaltece-se o ato de empreender como a única postura viável num contexto económico recessivo, onde o emprego bem remunerado escasseia. Por outro lado, a inconsequência de muitas iniciativas empreendedoras é conotada com "empreendedorismo de necessidade" e, consequentemente, pouco eficiente. 

Como não há nada mais prático do que uma boa teoria, Richard Cantillon, Adam Smith, Jean Baptiste Say, entre outros, deram o pontapé de saída. Joseph Schumpeter e o seu conceito de "destruição criativa" - desconstrução da ordem económica existente a partir da introdução de novos produtos, serviços, formas de organização ou exploração de matérias-primas - continuaram a saga. Peter Drucker, relacionou empreendedorismo e inovação e mostrou que empreender é, antes de mais, acrescentar valor. 

Teorias à parte assume-se que o individuo empreendedor é aquele que percebe uma oportunidade e cria meios para persegui-la. Assim, o processo empreendedor envolve todas as funções, ações e atividades associadas com esta perceção e a respetiva criação de meios. O que importa desmistificar é que não falamos apenas de criação de empresas (identificação de uma oportunidade de mercado e planeamento e construção de uma resposta), mas também da reinvenção das funções que são desempenhadas ao serviço de terceiros, ou mesmo promovendo mudanças e reunindo recursos em benefício da comunidade (empreendedorismo comunitário ou social).

Face ao exposto, a questão é inevitável: é possível aprender a empreender? Acredito que sim. No sentido de otimizar eventuais predisposições para a criatividade, para o fazer com paixão, para a humildade de saber fracassar e para a coragem de assumir alguns riscos. E é na formação graduada, pós-graduada e executiva que vamos buscar o saber que otimiza a intuição e a vontade. São vários os casos de sucesso que começam em sala de aula, em unidades curriculares de empreendedorismo e que amadurecem para ideias de negócio inovadoras e consequentes. Se a esta realidade juntarmos uma predisposição crescente para empreender (de acordo com o último relatório anual realizado pela Amway - AGER (Amway Global Entrepreneurship Report) - em colaboração com a Escola de Negócios da Universidade Técnica de Munique e a empresa de estudos de mercado Gfk, 56% dos portugueses manifestam vontade em empreender, sendo a média mundial em relação a este desejo de 49% e a europeia de 41%) e um contexto político favorável (segundo o IAPMEI, o Ministério da Economia lançou uma Estratégia Nacional para o Empreendedorismo que almeja potenciar a constatação de que Portugal tem hoje um dos mais vibrantes ecossistemas de empreendedorismo europeus), temos uma boa envolvente contextual para aprender a saber fazer bem: infraestruturas, tecnologia e capacidade de formação nas áreas das ciências empresariais. Afinal, se a alma é o segredo do negócio, o saber é o corpo.